Os desafios do turismo no pós pandemia

Ao Governo caberá a função de alocar recursos que permitam ao setor se reerguer A situação absolutamente surreal que o advento da pandemia impôs ao mundo tem como uma óbvia vítima o setor do turismo, em meio a todo o conjunto da economia que experimentou um cataclisma. A impossibilidade da atividade presencial em todos os […]


Ao Governo caberá a função de alocar recursos que permitam ao setor se reerguer

A situação absolutamente surreal que o advento da pandemia impôs ao mundo tem como uma óbvia vítima o setor do turismo, em meio a todo o conjunto da economia que experimentou um cataclisma. A impossibilidade da atividade presencial em todos os setores das atividades humanas e sociais afetou diretamente o consumo e, seguindo a lógica da cadeia econômica, todas as atividades produtivas. No caso específico do turismo, a Fundação Getúlio Vargas projeta queda de 38,9% do PIB turístico este ano, rebaixando-o dos projetados R$ 270,8 bilhões para R$ 165,5 bilhões.

O turismo se apresenta como um dos setores mais frontalmente atingidos com a restrição dos deslocamentos, a imposição do isolamento e o risco que se tornou a realização das atividades mais prosaicas. Acima de qualquer desejo prevalece o instinto de sobrevivência e o quadro que ainda experimentamos é ameaçador. O turista é a pessoa encontrada no seu melhor momento, predisposta a experiências agradáveis, a buscar ampliar seus conhecimentos sobre os destinos, que procura conhecer e demandar os serviços que envolvem uma gama de atividades, da hospedagem à alimentação, passando pelo lazer, entretenimento e serviços culturais.

O mundo todo vive ainda um processo de assimilação de uma situação absolutamente inédita, imprevisível, jamais cogitada. Faz-se menção a epidemias devastadoras como as da gripe espanhola no início do século, mas a distância no tempo colocou essas ocorrências como, senão impossíveis, pelo menos improváveis.

Ritos de produção se dissipam por terem revelados seu obsoletismo e inadequação a um novo momento em que a Tecnologia da Informação estabelece novos padrões de produção e consumo. A instituição do home office, o acatamento definitivo de que o que é digitalizável e conectável suprime a distância e a presença física, parece definitiva. Serviços e produtos se conjugam agora também na entronização do sistema de entrega, o delivery, que descarta o sistema convencional de ponto de venda pela função produtiva vinculada à entrega domiciliar, suprimindo uma intermediação que se mostra onerosa.

Nosso desafio é entender o turista que emergirá no cenário da pós-pandemia; se seus interesses se mantêm, se novas expectativas, novos desejos e novas necessidades serão determinadas por este novo cenário. O novo cenário a se construir no day after do Coronavírus já esboça uma mudança comportamental acentuada com a possibilidade da conjugação do lazer com o trabalho nos deslocamentos a partir do home office.

Toda produção que não requer a presencialidade, particularmente de serviços ou ativos intelectuais, poderá ser prestada de qualquer lugar, a qualquer tempo. Isso define novas possibilidades para o turismo e uma provável revisão do conceito de temporada ou estações, ajustando-se a essas a rotina de cada pessoa do que propriamente ao calendário. Isso acena promissoramente com a possibilidade de demandas lineares, sem picos, ao longo do ano.

Um desafio à parte para o setor será o de fazer a sua importância transversal na economia ser efetivamente reconhecida. Aqui no Espírito Santo, o turismo continua sendo uma eterna promessa sugerida por uma excepcional localização como destino que combina atributos diferenciados e uma cultura de abnegados empreendedores que se ressentem de uma ação mais assertiva dos governos que se revezam ao longo das décadas. Caberá ao Estado – ou ao seu tripulante transitório, o Governo – a responsabilidade de aparelhar o destino para que essa vocação finalmente se realize.

Alfonso Silva é empresário e presidente do Espírito Santo Convention & Visitors Bureau